segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

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CONTINUAÇÃO DO CAPITULO UM...(parte 4)

O café da manhã com Charlie foi um evento silencioso. Ele me desejou boa sorte na escola. Agradeci, sabendo que suas esperanças eram vãs. A boa sorte geralmente me evitava. Charlie saiu primeiro para a delegacia, que era sua esposa e sua família. Depois que ela partiu, fiquei sentada à velha mesa quadrada de carvalho, em uma das três cadeiras que não combinavam, e examinei a pequena cozinha, com as paredes escuras revestidas de madeira, armários de um amarelo vivo e piso de linóleo branco. Nada havia mudado.Minha mãe tinha pintado os armários dezoito anos atrás numa tentativa de colocar algum raio de sol na casa. Acima da pequena lareira na minúscula sala adjacente, havia uma fileira de fotos. Primeiro, uma foto do casamento de Charlie e minha mãe em Las Vegas; depois uma de nós três no hospital em que nasci, tirada por uma enfermeira prestativa, seguida pela procissão das minhas fotos de escola até o ano passado. Era constrangedor olhar aquilo - eu teria de pensar no que poderia fazer para que Charlie as colocasse em outro lugar, pelo menos enquanto eu morasse aqui.
Era impossível não perceber que Charlie jamais superou a perda da minha mãe ao ficar nesta casa. Isso me deixou pouco á vontade.
Não queria chegar cedo demais na escola, mas não conseguia mais ficar ali. Vesti meu casaco- que era meio parecido com um traje de biossegurança- e sai para a chuva.
Ainda estava chuviscando, não o suficiente para me ensopar  enquanto peguei a chave da casa, sempre escondida debaixo do beiral, e tranquei a porta. O chapinar das minhas novas botas impermeáveis era enervante.Senti falta do habitual esmagar de cascalho enquanto andava. Não podia parar e admirar minha picape novamente, como eu queria; estava com pressa para sair da umidade que envolvia minha cabeça e grudava em meu cabelo por baixo do capuz.
Dentro da picape estava agradável e seco. Billy, ou Charlie, obviamente tinha feito uma limpeza, mas os bancos com estofado caramelo ainda cheiravam levemente a tabaco, gasolina e hortelã.Para meu alívio o motor pegou rapidamente, mas era barulhento, rugindo para a vida e depois rodando em um volume alto. Bom, uma picape dessa idade teria suas falhas. O rádio antigo funcionava, um bônus que eu não esperava.
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