segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

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CONTINUAÇÃO DO CAPITULO UM...(parte 3)

Só havia um banheiro pequeno no segundo andar, que eu teria que dividir com Charlie. Estava tentando não pensar muito nisso.
Uma das melhores coisas em Charlie é que le não fica rondando a gente. Deixou-me sozinha para desfazer as malas e me acomodar, uma proeza que teria sido completamente impossível para minha mãe. Era legal ficar sozinha, sem ter que sorrir e parecer satisfeita; um alívio olhar desanimadamente pela janela para a chuva entristecendo tudo e deixar algumas lágrimas escaparem. Eu não estava com vontade de ter um acesso de choro. Ia economizar para a hora de dormir, quando teria que pensar na manhã seguinte.
A Forks High School tinha um total assustador de apenas 357 - agora 358 -alunos; em Phoenix, havia mais de setecentas pessoas só do meu ano. Todas as crianças daqui foram criadas juntas -  seus avós engatinharam juntos. Eu seria a garota nova da cidade grande, uma curiosidade, uma aberração.
Talvez, se eu parecesse uma verdadeira garota de Phoenix, pudesse tirar proveito disso. Mas, fisicamente, nunca me encaixei em lugar nenhum. Eu devia ser bronzeada, atlética, loura - uma jogadora de vôlei ou uma líder de torcida, talvez- todas as coisas compatíveis com quem mora no vale do sol.
Em vez disso, apesar do sol constante, eu tinha uma pele de marfim. E não tinha os olhos azuis ou o cabelo ruivo que poderiam me servir de desculpa. Sempre fui magra, mas meio molenga, e obviamente não era uma atleta; não tinha a coordenação necessária entre mãos e olhos para praticar esportes sem me humilhar - e sem machucar a mim mesma e a qualquer pessoa que se aproximasse demais.
Quando terminei de guardar minhas roupas na antiga cômoda de pinho, peguei minha nécessaire e fui ao único banheiro para me lavar depois do dia de viagem. Olhei meu rosto no espelho enquanto escovava o cabelo úmido e embaraçado. Talvez fosse a luz, mas eu já parecia mais pálida, doentia. Minha pele podia ser bonita era muito clara, quase translúcida -, mas tudo dependia da cor. Não tinha cor nenhuma ali.
Ao ver meu reflexo pálido no espelho, fui obrigada a admitir que estava mentindo para mim mesma. Não era só fisicamente que eu não me adaptava. E quais seriam as minhas chances aqui, se eu não conseguisse achar um nicho em uma escola com trezentas pessoas?
Eu não me relaciono bem com as pessoas da minha idade. Talvez a verdade seja que eu não me relaciono bem com as pessoas, e ponto final. Até a minha mãe, de quem eu era mais próxima do que de qualquer outra pessoa do planeta, nunca esteve em sintonia comigo, nunca esteve exatamente na mesma página. Ás vezes eu me perguntava se via as mesmas coisas que o resto do mundo. Talvez houvesse um problema no meu cérebro.
Mas não importava a causa. Só o que importava era o efeito. E amanhã seria só o começo.
Não dormi bem naquela noite, mesmo depois de chorar. Ao fundo o ruído constante da chuva e do vento no telhado não desaoarecia. Puxei o velho cobertor xadrez sobre a cabeça e mais tarde coloquei também o travesseiro. Mas só consegui dormir depois da meia-noite, quando a chuva finalmente se aquietou num chuvisco mais silencioso.
Só o que eu conseguia ver pela minha janela de manhã era uma neblina densa, e podia sentir a claustrofobia rastejando em minha direção. Jamais se podia ver o céu aqui; parecia gaiola
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